CORPO MIGRANTE – um corpo ressonante

Práticas somáticas e performáticas de habitar e transformar espaços

“Para sobreviver nas Borderlands, é preciso viver sem fronteiras, ser uma intersecção.”

Gloria Anzaldúa


“A questão não é mais quem somos, mas o que nos tornaremos.”

Paul B. Preciado

Corpos em movimento, em diálogo, em transição, contrastantes, delirantes, corpos ponte, corpos em cruzamento, corpos em devir, corpos liminares, corpos transitórios, corpos no vai e vem, corpos atravessados e que atravessam, corpos estranhos e saudosos, corpos fronteiriços, corpos transmissores, corpos veículos, corpos receptores, corpos que falam, corpos dançantes.

Neste workshop, abordaremos a experiência migrante por meio de práticas performativas somáticas vocais e corporais. Aqui, a experiência migratória é entendida de forma ampla, além do mero ato de migrar de um país ou cidade para outro, mas também como uma experiência cuir e, usando as palavras da ativista chicana Gloria Anzaldúa, um cruzamento e um “cheje” ou “entre” como proposto por Silvia Rivera Cusicanqui. A partir de minha experiência pessoal, esse cruzamento é um lugar de movimento constante, de devir e de escuta profunda, tanto para dentro quanto para fora. É um movimento dialógico, por vezes doloroso, outras vezes mais fluído, através do qual habito e transformo o espaço. Nesse lugar de cruzamento, sou receptora e ao mesmo tempo agente atuante.

Através das práticas vocais e corporais que venho desenvolvendo nos últimos dois anos e que denomino “O corpo ressonante”, realizaremos diversas experiências tanto no estúdio como no espaço público. A ideia é vivenciar conscientemente nossa relação conosco mesmos, com os outros e com o(s) espaço(s). De que lugar podemos habitar um espaço e fazer parte dele? De que lugar dialogamos? Interagimos ou apenas percebemos? Escutamos ou agimos? O que significa conviver? O que é habitar e ser habitado? O que significa ser atravessado pelos outros e pelos espaços? E o que acontece nesse movimento, nesse entre? Quantas vozes unimos? Somos voz e eco? Os outros não são apenas as pessoas presentes no espaço no mesmo momento que nós, mas também se referem aos nossos antepassados, aos que nos acompanham no mundo invisível e ao mundo da natureza: plantas, animais, bactérias etc.

O workshop será realizado no Centro Universitário Maria Antônia durante três dias consecutivos, com duração de 5 horas cada dia. Nos dois últimos dias, realizaremos duas horas de trabalho no parque Augusta. Vale ressaltar que não se trata aqui de realizar uma performance. O workshop está aberto a todas as pessoas interessadas no tema em questão, nas práticas somáticas e performativas do corpo, incluindo o trabalho com a voz e a linguagem, e de preferência que não tenham problemas em praticar em espaços públicos. Serão tomadas as medidas necessárias para garantir a segurança dos participantes.

Para mais informações sobre a facilitadora e seu trabalho, visite a página http://www.linktr/ee.anakavalis.com

Artísta

Ana Kavalis
Foto por: Gabriela Gioia

Ana Kavalis

Nascida em Havana, Ana Kavalis é uma artista de performance interdisciplinar cubano-alemã, atriz e professora de dança que vive e trabalha em Berlim desde 2004. Ela inicia sua formação em dança na Academia Narciso Medina em Havana. Em 1996 no meio do período especial em Cuba, migra para Montevidéu, Uruguai. Ali estuda arte dramático na escola E.M.A.D “Margarita Xirgú”, graduando-se no ano 2000. Em 2001, participa do CPTzinho sob a direção do diretor teatral Antunes Filho no CPT, em São Paulo, Brasil. Ela fala fluentemente espanhol, alemão, português, inglês e francês. Tem uma filha de 10 anos.

 

Em Berlim, ela trabalha junto ao grupo Djalma Primordial Science, fundado por Ephia Gburek (USA-FRA) (dançarina) e Jeff Gburek (USA-PL) (músico), entre o 2005 e o 2007. A partir do 2007 e até o presente ela produze e desenvolve suas próprias criações na área da performance, as quais vem sendo apresentadas não apenas em Berlim, mas também em outras cidades europeias e da América Latina. Paralelamente ela trabalha com vários coreógrafos, diretores e artistas internacionais em Berlim e no exterior, incluindo Lemi Ponifasio (NZ), Bouchra Ouizguen (LB), Diana Veneziano (UY), Eduardo Basualdo (ARG), Michael Vorfeld (DE), e mais recentemente Amanda Pina (CHL-MEX-AUT).

 

Em seu trabalho como investigadora corporal e artista interdisciplinar da performance, Ana se interessa por perspectivas feministas, interseccionais e decoloniais em relação à temas de migração, identidade, gênero e espiritualidade. Ela combina diversas práticas, incluindo elementos da dança Butoh, improvisação, prática somática na relação corpo-voz, a experimentação ao redor do poliglotismo, a criação de textos desde a experiencia do corpo, e o desenvolvimento de práticas sensíveis e políticas nos espaços públicos.

 

Em 2021, ela recebe a bolsa da DISTANZEN Dachverband Tanz Deutschland para seu projeto de pesquisa “Bruxas Urbanas: Mulheres Resistentes em Berlim”. Ela é co-fundadora de vários coletivos performáticos em Berlim como: Ore Ama, The Psychedelic Choir e Non – Most. Desde 2018, ela desenvolve sua própria prática chamada “The Resonant Body Training”. Atualmente, ela realiza a formação Somatic Voice na Somatische Akademie Berlin.